Bom, quero compartilhar com vocês a apresentação de um livro muito bom que estou lendo: “
Por uma outra comunicação”, de 17 autores (nomes e capítulos no fim desse post) sob a organização de Dênis de Moraes. Só pela apresentação, já dá pra ter uma ideia do conteúdo. Muito bom pra estudantes de Comunicação Social – Publicidade. Abre nossos olhos para certas ingenuidades que temos cultivado.
APRESENTAÇÃO
Este livro reúne um expressivo elenco de autores que desenvolvem, em diferentes países, reflexões sobre efeitos, implicações e perspectivas da mundialização comunicacional e cultural. Trata-se de um esforço coletivo de analisar o raio de alcance das reconfigurações dos meios e modos de produção, difusão, recepção e intercâmbio de dados, idéias, sons e imagens, numa época de aceleração tecnológica, de convergência digital e de mercantilização generalizada de bens materiais e imateriais.
A mídia desempenha função estratégica primordial enquanto máquina produtiva que legitima ideologicamente a globalização capitalista. Por deter a capacidade de interconectar o planeta em tempo real, os dispositivos de comunicação concatenam, simbolicamente, as partes das totalidades, procurando unificá-las em torno de crenças, valores, estilos de vida e padrões de consumo quase sempre alinhados com a razão competitiva dos mercados globalizados. E assim atuam apresentando-se como espaços abertos à reverberação da “vontade geral” - na verdade, um hábil artifício retórico para dissimular vínculos orgânicos com a lógica do capital.
Nesse contexto, um número reduzido de corporações assume o protagonismo na industrialização e na comercialização de marcas, produtos e serviços de informação e entretenimento. Tornam-se baluartes de um dos negócios mais rentáveis da economia de interconexões eletrônicas, com bandeiras fincadas nos quatro quadrantes e convulsiva apropriação de fluxos e componentes culturais.
Há, pois, uma confluência de variantes mercadológicas e tecnológicas nas mediações efetivadas pelos titãs da mídia, em seu intuito de organizar e convalidar os discursos da vida e da produção. Tudo isso em uma moldura de assimetrias e desigualdades entre o círculo de países ricos e a extensa periferia de nações submetidas às políticas excludentes do neoliberalismo. Políticas que favorecem em larga medida a transnacionalização das indústrias culturais, a concentração patrimonial e a primazia do lucro, ao mesmo tempo em que enfraquecem identidades, laços comunitários e direitos sociais.
Contudo, por mais profunda que seja a interferência dos aparatos de veiculação na configuração dos imaginários sociais, o mundo em rede enfeixa contradições, situações articuladas e possibilidades de transformações até então imprevistas. Inclusive aquelas relacionadas à virtualização de conhecimentos, às sociabilidades cooperativas e à meta de democratização da esfera pública. Daí a nossa opção de também lançar luzes sobre novos ambientes, práticas e vertentes comunicacionais tendencialmente propícios à disseminação de ideais participativos e aspirações solidárias.
Significa incluir, no exame da complexidade atual, o mosaico em gestação de resistências às dominações ideológico-culturais, no longo e por certo tortuoso percurso para a reversão de hegemonias constituídas. Creio ser esta a direção de sentido nos textos que focalizam a emergência de movimentos, redes e meios alternativos de expressão, interação e mobilização, tecendo vínculos cada vez mais estreitos com lutas antineoliberais.
Como indicam vários ensaios deste volume, o horizonte para um outro mundo possível não poderá abrir mão de políticas públicas democráticas para os serviços e espaços de comunicação, dentro de uma visão necessariamente supranacional, coordenada e convergente. Difícil imaginar a universalização da cidadania no quadro de dramática oligopolização dos setores multimídias. Resgatar a diversidade é fundamental para a coexistência dos povos, das nações e das culturas, Precisamos com urgência viabilizar um realinhamento equilibrado e estável dos sistemas globais de informação e entretenimento. Realinhamento que respeite peculiaridades regionais e afinidades eletivas, e não desconheça as mutações da era digital, mas que coíba monopólios, permita a descentralização da produção simbólica e assegure o bem supremo do pluralismo.
Por fim, um registro: o livro é dedicado à memória de Milton Santos, que nunca deixou de acreditar na capacidade dos homens de construírem um novo universalismo, digno e igualitário.
Dênis de Moraes
Título: “Por uma outra comunicação”
Editora: Record, Rio de Janeiro
Ano/edição: 2005/3a.
Páginas/encadernação: 414/brochura
Organizador: Dênis de Moraes
Autores/capítulos:
Muniz Sodré – O globalismo como neobarbárie
Benjamim R. Barber – Cultura McWorld
Jesús Martin-Barbero – Globalização comunicacional e transformação cultural
Aníbal Ford – O contexto do público: transformações comunicacionais e socioculturais
René Dreifuss – Tecnobergs globais, mundialização e planetarização
David Harvey – A arte de lucrar: globalização, monopólio e exploração da cultura
Naomi Klein – Marcas globais e poder corporativo
Dênis de Moraes – O capital da mídia na lógica da globalização
Robert W. McChesney – Mídia global, neoliberalismo e imperialismo
Ignacio Ramonet – O poder midiático
Manuel Castells – Internet e sociedade em rede
Franco Berardi (Bifo) – O futuro para a tecnosfera de rede
Mark Poster – Cidadania, mídia digital e globalização
Michael Hardt – Movimentos em rede, soberania nacional e globalização alternativa
Edgar Morin – Uma mundialização plural
Pierre Lévy – Pela ciberdemocracia
José Arbex Jr. - Uma outra comunicação é possível
Osvaldo León – Para uma agenda social em comunicação