domingo, 26 de fevereiro de 2012

Barthes de domingo



Soa suicida? :-) Que nada!

Continuando a caminhada semiótica: Barthes diz que "a substância visual (...) confirma suas significações ao fazer-se repetir por uma mensagem linguística, (...) de modo que ao menos uma parte da mensagem incônica (ou seja, visual)
está numa relação estrutural de redundância ou revezamento com o sistema da língua". O que isso quer dizer? Vamos pegar como exemplo a logo da Nike. Você vê aquele "v" estilizado e sabe imediatamente que é o símbolo daquela grande fabricante de tênis e outros artigos esportivos - e esse ícone, esse SÍMBOLO, é confirmado pela PALAVRA "Nike" que o vem acompanhando. Outro exemplo: você vê sua mãe se aproximando, no meio da multidão. Alguém está junto com você e diz: "olha, sua mãe ali". Você VIU e depois OUVIU a confirmação linguística de que é realmente sua mãe vindo ali. Resumo da ópera: as pessoas FALAM aquilo que VIRAM. Confirmam a visualização de um ícone/símbolo através da fala.

Ainda dentro do assunto "visual", Barthes dá uma explicação interessante sobre os objetos (que são visuais também, ora): estes só se tornam sistemas de significação quando passam antes pela linguística. Por que? Porque ela define os significantes (nomenclaturas) destes objetos e depois dá seus significados (razão de ser, formas de uso). Bora melhorar isso?

Ok. As roupas, por exemplo. Os significantes seriam as saias, as blusas, as meias, etc (lembra? Nomenclaturas). Seus significados seriam o por quê de seu uso (está na moda, as cores combinam, etc.). Com exemplo, melhora, né? ;-)

Você já deve estar percebendo a imensa importância da linguagem nos estudos semiológicos, não é? Tudo passa por ela. É ela quem define o sentido dos signos, dos significados, pois "o sentido só existe quando denominado" (Barthes, p.12). O semiólogo sempre acaba na linguagem, mas não na linguagem dos linguistas onde se faz análises sintáticas e morfológicas de frases, verbos, predicados e por aí vai - a linguagem abordada pelos semiólogos é uma "segunda linguagem", que estuda fragmentos do discurso, que remetem a objetos ou mesmo a episódios, segundo o próprio Barthes comenta. Estuda o que a fala quis dizer com aquilo que disse. Extraindo uma outra frase do livro, "a Semiologia é (...) translinguística, cuja matéria será ora o mito, a narrativa, o artigo de imprensa, ora os objetos de nossa civilização, tanto quanto sejam falados".

Por essas e outras é que Barthes disse, conforme o post anterior, que a afirmação de Saussure (de que a linguística é parte da Semiótica) provavelmente será invertida. Que a Semiótica é que é parte da linguística - e provavelmente é ela a área responsável pelo estudo das grandes unidades significantes do discurso (análise de trechos de discurso).

Tranquilo? Hoje foi light, né? É porque é domingo, dia do pé-de-cachimbo (ou do "pede cachimbo"). ;-) Então agora vamos curtir o dia! Até o próximo post!

Análise do livro "Elementos da Semiologia", de Roland BARTHES. 2006, 18a. ed..

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Iniciando na Semiótica

Sumi de novo, mas tô voltando, e com conteúdo. :-) Bora de semiótica? Tô com um livro muito massa (tanto quanto complicado de entender, mas Barthes tem esse talento) do Roland Barthes (1915-1980): "Elementos da Semiótica".

- "Cê é doida, Bia?? Semiótica??"

Isso aí! :-) Faz parte da minha monografia mas, mais do que isso, lança luz numa série infindável de assuntos que eu PENSAVA entender - e que acabei percebendo que não entendia era porcaria nenhuma. Principalmente a religião (mas isso envolve Semiótica, Antropologia, fica grande demais e não é pra agora).

Em se tratando de Barthes, a Semiótica é assunto mais complicado do que o normal. Então, o que vamos fazer aqui é destrinchar este livro em pedaços "engolíveis", aos poucos. Quem sabe você acabe se interessando por esse assunto também? ;-) Bora começar?

Barthes sempre se apoiou muito nos escritos de Ferdinand de Saussure (1857-1913), linguista e filósofo suíço que defendia a existência de uma ciência que se dedicasse ao estudo dos signos - à qual foi dado o nome Semiologia - e afirmava que a Linguística era apenas uma parte desta ciência. Mas o que é a Semiótica, afinal?

Segundo descrição do próprio Saussure, "a Semiologia tem por objeto, então, qualquer sistema de signos, seja qual for sua substância, sejam quais forem seus limites: imagens, gestos, sons melódicos, os objetos e os complexos dessas substâncias que se encontram nos ritos, protocolos ou espetáculos, se não constituem "linguagens", são, pelo menos, sistemas de significação".

O que ele quis dizer com essa maluquice? Vamos por exemplos, pra ficar mais fácil: uma moça piscando o olho pra um rapaz. Esse ato um dia talvez não passasse do indicativo de que um cisco havia caído no olho da mocinha que, por coincidência, estava de frente pro rapaz e ele viu ela fazendo isso. Hoje em dia significa uma cantada. Logo: a piscadela é o signo, e a cantada é seu significado. A música do filme "Tubarão", aquela do momento do ataque, lembra? São apenas duas notas musicais comuns e normais - mas pelo contexto em que ela foi executada no filme, ela passou a significar a aproximação de um perigo mortal acompanhado de suspense do tipo "vai dar m*rda e você não vai poder fazer nada a respeito". DUAS notas musicais, apenas! Elas são um signo e o suspense que elas carregam passou a ser seu significado. Claro, ainda é possível fazer uma análise aprofundada dessas duas notas (timbre, velocidade, etc.), mas não é pra isso que estamos aqui agora. Deixemos pra lá. Mas deu pra sacar o que Saussure disse? Com esses exemplos em mente, volta ali em cima e lê a definição dele de novo. Depois volta pra cá. ;-)

De toda maneira, Barthes revela acreditar, nesse livro, que ao contrário do que Saussure defendia, a Semiologia não é parte da Linguística, mas sim o contrário, porque ao estudar qualquer signo e seus significados, retornamos invariavelmente à linguagem, pois é ela que usamos para dar e relatar o significado das coisas.

- "Boiei".

Ok, vamos lá. A linguagem humana é o sistema de signos de maior amplitude conhecido. Afinal, todo mundo fala, não é? Fala, entende, conversa dentro de um idioma (ou mais, mas enfim). E essa linguagem é o que utilizamos para dar significado às coisas, para RELATAR o significado das coisas e passar esse conhecimento adiante. A grosso modo: a semiologia estuda signos e significados, inclusive da linguagem, mas a linguagem é utilizada para "dar voz" a tudo isso que a semiologia estuda. Como disse Barthes, "objetos, imagens, comportamentos podem significar, (...), mas nunca de uma maneira autônoma; qualquer sistema semiológico (ou seja, signos e significados) repassa-se de linguagem". Sacou?

Meio estranho isso tudo, né? Não se assuste com a Semiótica. Na maioria das vezes, principalmente nesse comecinho, a gente entende "pra gente" sem conseguir explicar o que entendeu - mas a gente sente que entendeu. E é assim mesmo. Mas quando não entender, não se estresse: largue a leitura e retorne quando estiver mais tranquilo.

Por hoje já deu, senão alguém sai traumatizado. Até o próximo post! :-)

P.S.: Sugeri links sobre os dois autores do Wikipedia mas você, visitante esperto que é, há de procurar informações sobre eles em outras fontes também, ok? ESPECIALMENTE em publicações científicas.