terça-feira, 1 de junho de 2010

Não estamos habituados a ter identidade própria

Desde que li o livro "O efeito multiplicador do design", da professora Ana Luisa Escorel, passei a reparar mais nas logomarcas e grafismos usados por aí, no comércio brasileiro. Ela diz, endossando a opinião de designers internacionais de renome, que o Brasil tem um design muito amadurecido, mas sem identidade própria. Imitamos muito os americanos e os europeus.

De olho nesse tema, li vários seguidores no Twitter reclamarem da logomarca da Copa de 2014 do Brasil. Bom, então vamos a ela, e a outras também.

Essa foi a logomarca escolhida dentre uma série de opções (que não encontrei pra mostrar aqui). Entre os votantes, estavam Ivete Sangalo, Hans Doner e Oscar Niemeyer.

À primeira vista, causa estranhamento, não é? "Credo, que coisa feia!" Mas se você se der ao trabalho e analisar com calma, curtir a imagem, vai perceber que ela remete a uma série de símbolos brasucas. Verá que ela lembra nossos rios (temos a maior concentração de água doce do mundo), palmeiras (nossas praias), nossa gente (as mãos) e lembra o próprio formato da taça.

Vamos dar uma olhada em algumas outras logomarcas?
Essa é a logo da Copa dos Estados Unidos. Reparem que tem bem o estilão deles, você identifica o design como sendo americano. Cores, formas, movimentos... Deve ser o design mais copiado do mundo.


Essa é a logo da Copa do México. O que ela traz que lembra aquele país, além do nome? Mais nada. A fonte é americana retrô, essa forma de retratar o mundo com linhas paralelas... Nada remeteu ao México, só aos EUA.


Essa foi a logo da Copa da França. Não sei vocês, mas a mim não lembrou em anda aquele país romântico, glamouroso. E justo eles, que odeiam os americanos! Fonte sem serifa, em formatação itálica, dizeres em inglês... Pra piorar, as cores da bandeira dos dois países são iguais, então nem nisso puderam criar uma diferenciação.


essa é a logo da Copa da Alemanha. Foi uma das que mais sobressaiu. A sobriedade do país foi retratada na fonte usada em "germany", mas a alegria de uma Alemanha finalmente unificada e livre da ditadura foi mostrada nas carinhas sorridentes e multicoloridas - uma imagem que ainda não estamos habituados a ver por aqueles lados. ;-)

Essa já está conhecida, é a logo da África do Sul. Apesar das cores remeterem à África, assim como o personagem ao centro que lembra pinturas antigas de cavernas e da tipologia, ao mapa estilizado do continente africano, ao mar ao sul... ainda achei a composição meio americanizada. Mas o que esperar, não é? Eles falam inglês, e foram colonizados principalmente por holandeses e ingleses (tendo sido dominada até pouco tempo atrás por estes últimos), então sofreu fortes influências dos mesmos povos que colonizaram os EUA.

Essa forma recorrente de estilizar personagens e mapas com traços rápidos é bonito, as mas é usado no mundo inteiro, indiscriminadamente. Apesar de não ter aparecido aqui, o uso de imagens de escudos atrás dos brasões (tipo o Vasco e muitos times europeus) é tipicamente europeu, pois as famílias importantes daquela região do mundo é que usavam isso - passava nobreza, imponência. Às vezes aparece no Brasil, mas não é um símbolo típico nosso.

Agora voltemos lá e cima, na logo brasileira. Ela lembra as outras? Cores, formas, símbolos...? Não. :-) Saiu completamente do padrão internacionalizado. Ela tem cara de Bahia, de praia, de sol. Ela tem cara de Brasil. E já tinha passado da hora de assumirmos o povo que somos e a cultura que temos. Abertos ao mundo, mas diferentes dele.