segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A sessentona que todo mundo tem em casa

TÔ VIVA! VOLTEI!

E pra provar, eis um editorial de uma amiga jornalista pra um jornal local de Belo Horizonte. O tema é muito bacana!


"Quem já estava acordado para a vida há sessenta anos há de se lembrar de Assis Chateaubriand espalhando um lote de cerca de 200 televisores importados pela cidade de São Paulo, como estratégia de divulgação da nova e promissora tecnologia a chegar no Brasil: as transmissões televisivas.

Rudimentares caixas de madeira com uma placa curva de vidro mostrava a vida em movimentos monocromáticos chiados e som de qualidade semelhante ao dos rádios. Poucos dias depois, era anunciada a criação da TV Tupi, pioneira, desengonçada, uma aprendiz de emissora. Na época em que videotapes não existiam, tudo (tudo mesmo) era feito ao vivo, e as primeiras propagandas não passavam de belas moçoilas entoando textos decorados, vigiadas com aflição por diretores apavorados com a possibilidade de uma fala sair errada. O problema tecnológico foi resolvido por – pasmem – Chico Anysio, que providenciou o primeiro aparelho de videotape do Brasil. Agora sim era possível gravar, editar, regravar e reprisar.

Da década de 1950 até os dias atuais, aconteceu um verdadeiro desfile de tecnologias, aprimoramentos, personalidades, emissoras e programas de TV, mas em algum ponto, a evolução retrocedeu. A partir de 1994, a renda per capita melhorou com a implantação do Plano Real e classes marginais passaram a ter aparelhos de TV em casa – era uma nova audiência, e as emissoras quiseram se apoderar delas através do populacho, dos conteúdos erotizados e violentos. De nada adiantaram os levantes e insurgências dos intelecutais: a banalização da programação foi implantada e imediatamente aceita pela população que agora representava numericamente a maior audiência de qualquer emissora.

Hoje, nos vemos rodeados de reality shows, programas policiais sensacionalistas, folhetins nada criativos e de enredo paupérrimo. O caminho mais curto para a fama é perder a vergonha de mostrar as pernas e o busto. Assaltos e sequestros são mostrados ao vivo – inclusive com direito a conversa entre apresentadores e sequestrador ao vivo. “Viva o Ibope!” “Estamos na frente da Globo!” Viva. E a vítima acabou morrendo.

Sessenta anos depois, a TV mostra que avançou rapidamente em direção ao futuro, mas aparentemente pisou no próprio cadarço durante a corrida"


Patrícia Campolina - BH - MG