quinta-feira, 10 de novembro de 2011

There and back again (my wish), by Bia

Hoje me dei conta de coisas que perdi há algum tempo mas não havia deixado a ficha cair.

Eu morava num bairro rural, a Violeira. Morei lá por 4,5 anos. Uma casa de porte médio com um gostoso quintal, estradinhas de terra no lugar de ruas, metros quadrados de árvores ao invés de vizinhos, pequenos macacos e tucanos morando do lado de lá da cerca, numa mata virgem. O ar era muito transparente, os grilos cantavam todas as noites, dividindo espaços com as corujas.

Nas estradinhas não tinha nem poste, e a noite era o completo breu. O céu era cinza de tantas estrelas e a lua tornava a iluminação urbana completamente desnecessária. A chuva farfalhava nas copas das árvores todas as vezes, e subia aquele cheirinho de terra molhada, coisa que o morador da cidade mal conhece.

A vida tem dessas coisas, e numa dessas, vim morar no centro da cidade. Um apartamento pequeno, sem quintal, numa rua super iluminada, com jovens endemoniados passando com seus malditos carros de som e os motoboys acelerado motos zoeirentas à toa; jovens bêbados - e talvez drogados - gritando uns com os outros palavras de toda sorte.

Ganhei muito vindo morar no centro, mas o que perdi me é caro demais. Aqui, no apartamento, não tenho varanda, menos ainda quintal. Vejo a chuva agitar as poucas árvores da calçada pelas janelas de vidro. Pássaros, só de manhãzinha, mas logo somem. Macacos? Aqui? Jamais. Grilos... um ou outro. E pior: um céu enorme sobre a minha cabeça, lindo, com uma lua deslumbrante e eu não posso apreciar. Porque aqui, a rua é iluminada mas é perigosa. Porque aqui, se um boyzinho me vê sozinha na rua, buzina e grita querendo mexer comigo. Porque aqui, mulher sozinha na rua é alvo de assalto e estupro e a gente não pode dar bobeira. Porque aqui, a gente não tem direito ao espaço da rua. Nem ao silêncio! Quem dirá a segurança e a momentos de pura e simples contemplação do céu. Aqui a gente não tem direito ao céu.

Quer saber? Acho que não vim morar junto à civilização - acho é que me afastei dela.