quarta-feira, 4 de abril de 2012

Bate-papo entre gigantes: Saussure, Hjelmslev e Jackobson


Quase dava pra ouvir os vozeirões nessa parte do capítulo! Saussure, Hjelmslev e Jackobson num debate fervoroso com teorias, provas e contraprovas caindo do céu igual chuva! Haja neurônio pra acompanhar uma conversa dessas, mas seria interessante de ver se fosse possível.

No último post, falamos sobre as diferenças linguísticas provocadas pelos regionalismos, sobre o r falado num Estado e no outro, ou mesmo o r de "rato" e o r de "laranja" (sacou, né? A letra é a mesma, mas a sonoridade é diferente). Pois bem... a tal contradição na teoria de Saussure diz respeito a essa diferença. Na dicotomia saussuriana (lembra? Língua/Fala), essa diferença estava na Fala. Entretanto, a gente pode admitir que são diferenças impostas, ou seja, essas diferenças são normatizadas na Língua para que possamos falá-las corretamente (segundo as normas). E aí vem a contradição: podemos admitir que o que não é diferenciativo também pertence à Língua (enquanto instituição), ao contrário do que dizia Saussure?

Teve estudioso dizendo que sim, e teve quem negasse. A verdade é que pela teoria de Hjelmslev, através da dicotomia Esquema/Uso, essa contradição sumiu. Se Saussure tivesse aprofundado um pouco mais seus estudos em Linguística, talvez ele se desse conta disso também. Mas amém. ;-)

Mas vamos ver um cadinho mais de Saussure, porque vale a pena. Ele já havia identificado o chamado idioleto, que é, segundo descrição de martinet, "a linguagem enquanto falada por um só indivíduo". Se você leu os posts até agora com atenção, com certeza chiou. "Mas a linguagem não é social? Como é que pode existir uma forma individual, então?". Pois é. Jackobson achou a mesma coisa e abriu o bocão, e foi duro: "a propriedade privada, no domínio da linguagem, não existe". Porém ele admitiu que o termo "idioleto" pode ser usado para definir a dificuldade na comunicação entre pessoas com idiomas diferentes, ou mesmo para definir o estilo próprio de um escritor. Aí sim, né Jackobson? ;-p Mas além das definições dele, pode-se usar ainda a definição de idioleto como a linguagem de uma comunidade que tenha sua própria maneira de interpretar os enunciados linguísticos. Regionalismo? Eu pensei nisso. Mas Hjelmslev deve estar achando é graça, porque sua teoria sobre o uso já previa a necessidade de achar um meio-de-campo entre Língua e Fala. Se jogasse loteria, hein? Vixe...

Mas vamos ver mais um pouco de Jackobson? Então. Ele tinha uma teoria sobre Código/Mensagem (afe Maria, mais dicotomia surgindo...), ele estudou casos particulares aos quais chamou de estruturas duplas. No total foram dois casos do que ele chamou de "circularidade e dois de acavalamento (ou overlapping). Vamos a eles:

1) M/M, mensagem dentro de mensagem (ou ainda discursos acrescentados): é o caso dos estilos indiretos.
2) C/C, circularidade do código: é o caso dos nomes próprios, onde o nome significa a pessoa a quem ele foi atribuído.
3) M/C, a mensagem se acavala sobre o código: é o caso das autonímias, onde a palavra designa ela mesma (exemplo: cão).
4) C/M, o código se acavala sobre a mensagem (ou ainda, shifter - engatador): o principal exemplo aqui são os pronomes pessoais (eu, tu), que são os símbolos que reúnem "o laço convencional e o laço existencial" (Barthes). Aliás, segundo ele, os pronomes pessoais são "a última aquisição da linguagem infantil e a primeira perda da afasia" (perda da capacidade de falar e escrever). Se é verdade eu ainda não sei, mas considerando que seja, é complexo...

Teoria demais? Lógico! Semiótica é assim - e tem muito valor para quem escreve, seja numa agência publicitária (muito!), seja numa redação de jornal, seja um(a) escritor(a) de romance. Ahh, vá... nem é tão ruim. ;-)

No próximo post a gente entra em outro subtítulo do livro: "Perspectivas Semiológicas".

Análise do livro "Elementos da Semiologia", de Roland BARTHES. 2006, 18a. ed..