quarta-feira, 7 de março de 2012

Língua e Fala: a dicotomia saussuriana


Com um título desses, metade desanima de continuar a leitura. Eu desanimaria uns tempos atrás! Mas hoje, coisa que gosto é passar mais de meia hora em cima dum único parágrafo, só pra entender o que diachos ele está querendo dizer! Semiótica é assim! Ói que bão! ;-D

Até aqui, a gente só desbravou a INTRODUÇÃO do livro de Barthes. Agora é que o bicho vai começar a pegar. Diliça! E hoje a gente começa com o conceito de Língua vs. Fala de Saussure.

Pra ele, a Linguagem é uma verdadeira zona: inclassificável, excêntrica, estrambólica porque ela compõe um processo físico, fisiológico, psíquico, individual e social. E de fato: como classificar uma fuzaca feito essa. né? SÓ QUE... só que, se a gente isola o conjunto de convenções que a forma (logo, a parte social), temos a língua - um "objeto social" (como Barthes expõe) perfeitamente classificável. E nisso, a fala se torna a parte individual da linguagem.

Barthes jogou matemática onde antes só se via português e disse o seguinte: "A língua é então, praticamente, a linguagem menos a fala". Tá odiando o coitado mais ainda depois dessa, né? Faz isso não, o cara "tem as manha", é inteligente por demais. Afinal, um abestalhado jamais uniria português, matemática e semiótica numa fórmula que fizesse algum sentido! ;-p Bora continuar.

Então já entendemos: a língua é a parte social da linguagem, é uma espécie de "contrato coletivo" que todos os indivíduos devem aceitar para que consigam se comunicar. É social porque uma pessoa não pode criar uma língua sozinho - sozinho ninguém se comunica (ok, deixem a oração fora do assunto). Igualmente, essa pessoa não consegue modificar uma língua por conta própria e sair por aí se fazendo entender. A língua é coletiva e pronto.

"Ah, mas e as diferenças dum cara que mora no interior de São Paulo e fala o R de Piracicaba e do outro que mora em BH e fala um R menos puxado"? Ahh... aí, caríssimo, é a FALA. ;-) E a fala é um processo individual, mesmo. Se eu cismar, posso sair por aí falando "geladeira" ao invés de "geladêra" como a maioria das pessoas fala. Mas a palavra é conhecida na minha língua, na sua, de todo mundo; é um signo socialmente reconhecido (a gente vai falar sobre signos mais pra frente, não se preocupe). Agora, a maneira como vou pronunciá-la é decisão individual minha, é minha decisão sobre a maneira como vou falar.

Tranquilo até aqui, né? A Língua é a parte social da linguagem; a Fala é a parte individual. Então, a fórmula de Barthe está certa (dentro do conceito de Saussure): língua+fala=linguagem.

Apesar de a Fala ser um ato individual, ela não é aleatória: ela é uma combinação de signos da Língua, e esses signos são idênticos ao longo do discurso. Pra ficar mais fácil de entender: duas pessoas conversando na mesma língua. :-) Sacou? Considerando que as palavras são signos (no sentido de símbolos, grosseiramente falando), as palavras usadas por essas duas pessoas são as mesmas, não são? Pois então. Elas estão usando de um ato individual (que é a Fala) para se comunicarem através de um ato social (que é a Linguagem), que tem seus signos já estabelecidos através daquele tal de "contrato social" que falei ali em cima. Resumindo: estão usando o mesmo conjunto de signos, signos idênticos, para se comunicarem.

Podiam ser duas pessoas conversando em línguas diferentes? Uai... podia. Mas não ia sair nada disso aí. Eu, pelo menos, não consigo imaginar um chinês dando "bom dia" prum alemão e esse alemão não pensar que o chinês estava mandando ele ir à ***********. -.-

Tem bem mais sobre Língua, Linguagem e Fala, mas vamos ficando por aqui por hoje. "Devagar e sempre", já dizia o Rub... ahn... TARUGO! Tarugo, isso mesmo. Tarugo.

C'ya!

Análise do livro "Elementos da Semiologia", de Roland BARTHES. 2006, 18a. ed..

2 comentários:

  1. Semiótica é uma das coisas herméticas mais acessíveis que existe. Sério mesmo =)Ao contrário de algumas ciências que adoram exaltar os "meandros" da realidade (insira piada com a classe da qual notadamente tenho mais pavor), a semiótica parece complicar a compreensão da percepção humana, mas na verdade ela só a descasca para entendermos o cerne. E como se descasca uma fruta, é complexo de início mas depois pega-se o jeito. Ainda quero compreender bem mais dessa nobre linha de pensamento =)

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  2. Sempre de olho no lance, né? :-)
    De início a gente dá umas empacadas, mas depois que vence a inércia fica uma gostosura!

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E aí?