segunda-feira, 29 de junho de 2009

Realmente, essa é a era dos extremos - e dos extremistas.

Eu faço parte (não sei por quanto tempo mais) de uma lista de discussão sobre parto natural. Eu também sou totalmente a favor de um parto sem intervenções DESnecessárias, e contra as cesareanas eletivas - ou por motivos inventados pela genialidade criativa dos médicos preguiçosos.

Nunca me conformei com isso de "escolher o dia da criança nascer". Isso vai contra a natureza, já que a própria criança aponta quando está pronta para nascer e dá início ao trabalho de parto. Mas não pense que não reconheço as vantagens da cesárea - quando empregada para salvar a vida da mãe e/ou da criança, é mais do que bem-vinda.

Pois bem. Outro dia, nessa mesma lista, comentaram sobre uma mulher que deu à luz no banheiro do hospital. Era uma professora. Não foi assim por vontade dela. Ela chegou com dores no hospital, disseram que estava tudo bem, era alarme falso e a mandaram pra casa. Nem chegou lá, as dores pioraram e ela voltou - com marido sogra e tudo.

Ocorreu que tornaram a dispensá-la, mesmo depois de exames. Ela sentiu vontade de ir ao banheiro (penso que eram os "puxos" finais) e lá, com a ajuda da sogra, agachada num chão imundo, a criança nasceu.

O que essa história tem a ver com a tal lista de discussão? As participantes da lista acharam que a mulher teve foi sorte!! Pensei: "como é que é?? A mulher desesperada, dando à luz num lugar cheio de médicos e todo mundo dispensando ela, e o bebê nasceu no chão sujo do banheiro... e isso foi sorte??" Quando expus meus pensamentos na lista sobre o caso, foi bombardeada por mensagens extremistas.

- "Ela não sabe a sorte que teve! Esse hospital é campeão em intervenções!"
- "Ela não foi desamparada, ela conseguiu fazer sem a ajuda de ninguém!"
- "Parabéns à mãe, que foi guerreira e nem sabe!"
- "Provou que não precisamos de médicos para parir!"

Tentei argumentar (tô com essa mania, agora): - Gente, ela não está feliz assim! Não foi o parto que ela sonhou! Ela foi ao hospital porque se sentiria mais segura dando à luz lá, ela procurou os médicos, não quiseram atendê-la porque não acreditaram que ela estava em trabalho de parto! Ela foi dispensada por eles, e foi dar à luz num banheiro imundo!

Tornaram a me rechaçar, com as mesmas desculpas acima.

Tô inconformada por minha opinião não ter sido aceita? Não. Tô inconformada é com a cegueira que aquelas mulheres desenvolveram. Agora virou "parto normal a qualquer custo". Se encontram uma grávida que quer dar à luz num hospital campeão de cesáreas, elas fazem até macumba (tô brincando) pra mudar a cabeça da pobre!

Tá cheio de gente por aí com boas idéias, idéias altruístas, bonitas. Mas há uma tendência forte em querer impor essas idéias de qualquer jeito na cabeça de todo mundo. A felicidade só existe se for buscada da maneira que ELAS pensam ser a correta, não exite espaço para pensamentos diferentes.

E aí fico pensando: "gente... meu superego é que é acordado demais, ou eu vim de outro planeta e ninguém me avisou?? Por que é que pra mim o respeito pelo sentimento dos outros é tão fácil e pra essa massa toda é algo tão inalcançável assim?".

Eu fui rechaçada simplesmente por ter entendido que aquela mulher não deu à luz com o amparo que ela gostaria de ter, então o parto dela não foi assim tão feliz como apregoam as queridas colegas lá da lista. "Ah, se ela fosse mais bem-informada, perceberia a sorte que teve!" Beleza, ainda por cima chamam a mulher de desinformada.

Minha tendência natural? Me afastar de pensamentos obtusos como esse. Mas talvez, aí EU é que estivesse sendo extremista.

Aprendendo, na marra, a lidar com gente.

5 comentários:

  1. Caraca, Bia!!! Foi em Viçosa isso?
    Pois é, se pecam pelo excesso, também pecam pela falta. É sempre em extremos. A questão da saúde da mulher no Brasil é muito complicada. Principalmente em atendimento público.
    A gente sofre, né? Beijo

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  2. Foi não, Quérou, esse caso foi em Curitiba.
    De fato, se a gente for esperar se atendida pelo que temos hoje, com a mentalidade que a gente tem das coisas, não vai sair feliz do hospital, não.
    Mas isso é uma coisa "comum", e há alguma luta pra mudar. O problema é que tem tem voz pra mudar não está mais se preocupando em achar um termo-comum com o sistema de hoje - querem mudar radicalmente, duma vez só, debaixo de cacete, se precisar!
    Vai dar tudo errado, pelo visto.
    Falou, Quérou!

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  3. Pois é. Sabe que eu soube por minhas amigas enfermeiras que havia uma política bacana de atendimento à mulher, e que retrocedeu nos dois ultimos anos, antes de ser efetivamente adotada.
    Triste, né? Recuar sem nem ter avançado...

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  4. Caraca Bia, entendi seu ponto de vista, e penso que vc foi bastate lúcida. Ess*s xiitas do parto natural parece que piraram.

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E aí?