domingo, 7 de fevereiro de 2010

Design à la Carmen Miranda

No post anterior, usei um dos capítulos do livro “O efeito multiplicador do design”, de Ana Luisa Escorel, para explicar por que o termo “logomarca” é errado, e levantei uma questão sobre a mania que o publicitário brasileiro tem em usar fórmulas já conhecidas, sem ousar. Pois bem. Usarei outro capítulo do mesmo livro.

Escorel afirma que todas as nações normalmente têm um certo ressentimento sobre a própria cultura, e meio que inveja a cultura dos outros. Os portugueses têm inveja do porte social dos ingleses; italianos invejam a imaginação e a densidade filosófica dos alemães; os americanos invejam as tradições europeias, etc. E os brasileiros, estigmatizados por terem sido um país-colônia, têm um terrível sentimento de inferioridade. E assim, copiam tudo o que vem dos países mais fortes.

A cultura do Brasil é muito recente, e não há preocupação em preservá-la, o que torna o país vulnerável à adoção das culturas e padrões que vêm de fora, inclusive as tradições.

A globalização tende a igualar nossos gostos e hábitos, nossos valores estéticos e nossas necessidades de consumo – e nesse ambiente (por sinal, altamente competitivo), se algum produto se apresenta com roupagem particular, diferente das demais, recebe mais destaque. Isto é óbvio, não é mesmo?

O design é uma forma de expressão, e não há sentido algum em usarmos a bagagem do vizinho para falarmos de nós mesmos, concordam? Então por que não usarmos os códigos, os símbolos que nos são próprios? É do Brasil que estamos falando! A terra das belas praias e palmeiras, da Amazônia e das cachoeiras, das montanhas e histórias! É a terra do povo miscigenado, da multicultura, do “vamos chegando”, do cafezinho na roça servido em xícara de ágata!

Nosso futebol é reconhecido em qualquer lugar do mundo – mas e o nosso design? Que traços distinguem um produto brasileiro dos demais? Que cores? Que tipografia? O que faz um estrangeiro olhar para um logotipo no meio de outros tantos (digamos, num congresso internacional de comunicação) e o faz ter certeza: “ah, ESSE aqui é brasileiro”? Qual é a nossa assinatura?

Wim Crouwel (designer holandês) e Emily Hayes (assessora do British Council para assuntos de design), tomando por base os catálogos da Bienal de Design Gráfico de 1998 realizado pela ADG, concluíram o seguinte: o nível de qualidade do design praticado no brasil é altíssimo e comparável ao de qualquer grande nação – entretanto, não tem identidade. Não é o caso apenas do Brasil – outros tantos países perambulam pelo mesmo caminho do copia-e-cola – mas não é um hábito saudável. A tendência disso é a perda progressiva da identidade e dos valores nacionais, e isso é sério.

Agora, verdade seja dita: Crouwel e Hayes vieram de fora, tinham uma perspectiva externa do que ocorre aqui (lembram da máxima “quem vê de fora, vê melhor”?), então puderam fazer essa leitura do design brasileiro. Para um designer brasuca, a proximidade com as próprias tendências culturais causa um desnorteamento. Usando as palavras de Escorel, “... fica extremamente difícil a avaliação equilibrada das tendências, a menos que se acate um prisma de total relatividade que coloque o raciocínio que vamos tentar desenvolver no terreno da mera conjectura. Trocando em miúdos: sacar a tendência cultural onde VOCÊ está inserido é coisa de ninja. É mais fácil quando você é estrangeiro, ou quando a tendência analisada está distante algumas dezenas de anos. Mas ainda assim, com um belo esforço, é possível.

Usamos as fórmulas e padrões definidos lá fora, as aceitamos como corretas e imutáveis. Traços, cores, equilíbrios, quantidade de texto. Não me parece justo com nosso país, nem com nossa inteligência, que nos comportemos como se fôssemos iguais aos outros – quando na verdade, nossa identidade é muito bonita e merece ser apresentada por aí. Nosso design não tem que ser “tão bom quanto os americanos” - tem é que ser tão bom quanto tem capacidade de ser (e é alta).
Ela tem que ser brasuca. ;-)

2 comentários:

  1. Oi Bia sou eu , tony.

    A experiência que tenho é a seguinte, a maioria das pessoas na hora de criar, não criam do zero, tudo bem que as vezes precisamos de referências, mas seria melhor se tentassemos tirar algo puro de dentro da gente, só ae então saberemos a evrdadeira cara do dsign, inovando.

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  2. É o que penso também, Tony (aliás, muito massa ter seu comentário, valeu!) :-)

    Brasileiro tem uma capacidade inventiva que só aparece quando ele faz alguma gambiarra - tipo a de consertar motor de fusca com barbante e um pedaço de arame. Pra criar, ele realmente busca referências (como você disse), mas não sai delas.

    Eu lembro dos trabalhos que vi lá na nossa sala. São vários talentos (você, inclusive), tanto pra criar como pra materializar a criação. É lógico que, como alunos, a gente ainda precisa de referências, mas sou mais do que a favor de concebermos nossos próprios métodos, pra podermos assumir nossa identidade brasuca.

    Abração!

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