quinta-feira, 18 de março de 2010

É, eu escalava...

Era a melhor coisa do mundo - na verdade, talvez ainda seja.

Quando você pratica escalada, precisa se concentrar, pois você carrega todo o peso do seu corpo o tempo todo, e precisa dividi-lo para braços e pernas. É preciso coordenação e planejamento de cada movimento; afinal, você vai estar apoiado em pequenas estruturas, e não em degraus de escada. Movimentos mal-feitos e você pode cair - mesmo estando atado a uma corda, cair é tudo o que você não quer! ;-)

Isso tudo quando você treina em academia - porque quando está numa rocha... ah...

Na rocha, tudo muda. Basta começar a se aprontar (conferir as cordas, os freios, os mosquetões, sapatilhas e sacos de magnésio) pra começar a se desconectar do mundo. E quando você toca a pedra, já era. Você não está mais aqui. Você não sabe mais o seu nome. Você não se lembra mais dos seus problemas. O único que você passa a ter é o seguinte: "deixa eu ver como vou fazer pra chegar lá em cima...".

Escalei durante um bom tempo! Uns 3 ou 4 anos. Logo que terminei meu primeiro ano de treino na academia, já estava dando aulas (nosso professor formou e foi embora, me deixando incumbida disso), e já tinha algumas experiências em rocha.


Esses são meu professor (Agnaldo) e eu, durante a subida de uma das rochas em Araponga-MG. Era uma via de mais ou menos 60m de altura, chamada Maldição da Múmia. Acho que foi a primeira escalada que fiz com minha sapatilha. Essas sapatilhas são específicas para escalada em rocha, com um solado de borracha super aderente e ranhurada. É muito apertada no pé, para dar mais firmeza (se o pé ficar "sambando" lá dentro igual num tênis folgado, você cai toda hora). É desconfortável, e até meio difícil de calçar, mas na rocha você agradece por estar calçando uma!


Esse é o Harlei, meu companheiro, durante uma subida em Ervália - um paredão que tem lá. Planejamos a ida lá um tempão, e justo no dia, baixa uma neblina f*dida. Mas a gente já estava lá mesmo, então ficamos e tentamos aproveitar ao máximo. Reparem que ele também estava usando sapatilha especial. Acho que essa foi a primeira experiência dele em rocha, e foi bem! :-) Apesar da neblina, a rocha estava relativamente seca, então a subida não ficou prejudicada.



Esse é o Marcos, na mesma rocha que o Harlei estava. No caso, ele estava usando um par de Kichute (lembram dele?). É o primeiro calçado de qualquer escalador: um Kichute com as travas cortadas. Entre todos os sapatos convencionais, é o que o solado mais aderente. Basta comprar um número que fique bem justo no pé, e pronto. Repararam que nem ele nem Harlei estavam presos a cordas? Chamamos esse tipo de subida de "boulder", ou seja, quando a rocha é pequena e uma queda é controlável e sem oferecer riscos. Mas sempre fica alguém no solo, pronto para orientar a queda (mas nunca tentar pegar no colo, que ninguém é tão doido, né?).


Esse é o Vinícius, também na mesma rocha. Ele morava em Ervália, e foi quem nos falou desse paredão. Tô aqui apresentando o pessoal, mas só se vê traseiros, né? É assim mesmo. :-) Se escalador tivesse RG diferenciado, teria uma foto da própria bunda no lugar da foto do rosto! ;-p Ao contrário do que parece, ele não enfiou a cara no mato, eram duas touceiras distantes mais de meio metro dele.




Esse é o Agnaldo, na nossa primeira ida a uma rocha. Essa via (caminho pra escalada, pré-determinado na rocha) recebeu o nome de Papai-Mamãe, porque a subida dela era tão fácil quanto a posição que vocês estão se lembrando aí. ;-p Ela tem uns 15m de altura (acho). Ele subiu primeiro para ancorar a corda lá no topo (essa não tinha jeito de subir sem corda). Olhando na foto não parece, mas tinha um bocado de lugares pra apoiar mãos e pés. A pedra parece lisa, né? :-)


E essa sou eu! :-) De Kichute e tudo, na minha primeira subida em rocha, na Papai-Mamãe. Lembro que passei um pouco de aperto, porque subir em rocha é totalmente diferente de subir parede de academia. A textura é diferente, e as agarras (saliências onde nos apoiamos) normalmente são bem menores. Ô, mas é tão mais gostoso subir em rocha!!!


Eu de novo, mas num boulder (lembra? Pedra pequena) em Botelhos-MG, cidade onde meu pai mora. Foi numa das minhas melhores épocas como praticante do esporte, e também a que eu estava mais viciada. Afinal, pra subir de calça jeans, tem que estar viciada é demais! Essa pedra deu um pouco de cagaço, porque já está bem lixiviada (gasta pelo tempo), então sempre havia o risco de uma agarra quebrar. Mas subi rapidinho e saí dela.




Essa é minha amigaça Jordânia, subindo uma outra rocha de Guiricema, numa via de uns 30/40m que o pessoal chama de Ninho da Coruja. É que no meio desa rocha, surge uma fenda, onde um par de corujas havia feito um ninho. Só que a fenda está à esquerda da Jô (dá pra ver na foto), e a maluca foi pelo lado mais difícil - e não caiu! Essa era das boas! :-) Esse saquinho azul preso à cintura dela é pra levar pó de magnésio - usamos pra anular o suor das mãos.


Essa foto nós tiramos na academia. O de preto à esquerda é o Vinícius, da foto lá em cima. O de branco é o Agnaldo e o outro, Miguel. Normalmente, eu é que fazia a segurança (segurava a outra ponta da corda enquanto o pessoal subia), porque eu tinha um bom domínio da técnica. Segurava pessoas muito mais pesadas do que eu. Era engraçado quando ficávamos fazendo graça na parede - os alunos de spinning, da sala ao lado, paravam pra ver, e ficavam rindo de nós! Hehehe! Era muito gostoso.


Ah! Esse dia foi bacana! Primeira escalada com o grupo quase completo! Essa foi em Araponga, numa via de 30m de altura chamada Língua Seca - porque depois de uma chuva, era a primeira parte da rocha toda a se secar, e essa parte tinha mesmo o formato duma língua gigante. A lona no chão é pra proteger a corda da poeira. reparem no Agnaldo usando o pó de magnésio antes de começar a subir.

Repararam que ninguém é marombado? Escalada não serve pra isso, mesmo. Ela define o corpo, mas não maromba ninguém. Aliás, marombado quase nunca se dá bem nesse esporte, por duas razões:
1- músculos muito desenvolvidos são muito pesados, e isso dificulta a escalada, seja na rocha, seja na academia;
2- músculos muito desenvolvidos são volumosos e atrapalham movimentos que exigem flexibilidade e agilidade.

Lembro de ter feito segurança prum marombado que chegou na academia todo cheio de marra, achando que ia abafar todo mundo. O infeliz não chegou nem no meio da parede (de 4m, só)! Pesado, desajeitado, nenhuma flexibilidade, nenhuma agilidade. Só força, num esporte que não pede força nenhuma - só jeito.

Sinto saudades de escalar. Um dia, tomara breve, volto a subir pedras e esquecer meu nome. :-) Quer vir junto?

2 comentários:

  1. Oi, Bia! Legal o seu post sobre seus tempos de escalada. Espero que volte a escalar em breve :)
    Você teria uma versão em melhor resolução de sua foto usando Kichute? É que não da pra ver direito os detalhes do calçado ali, as travas, por exemplo. Parece que você não as cortou, né? Bjs
    Cristiano

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